12/02/10

Os “ecos”, “ambientais” e” ecológicos”…

Desde sempre e sem querer repetir sistematicamente os temas e as ideias, a arquitectura é a arte de construir. (ponto)
Mais pedras menos pedras, mais espaço menos espaço, mas resume-se a criar espaços habitáveis, utilizáveis, vividos.
Uma simples casa rural com o seu palheiro, adega ou alcova em comparação com um solar nobre ou casa apalaçada burguesa ou monárquica, não deixa de ser a resposta clara a uma condição primaria:
-Organizar espaços, a uma determinada escala, com um determinado material e para um determinado programa.
Sendo assim, o papel do arquitecto-mor na antiguidade clássica ou até histórica, desenhando o castro ou a pirâmide, o traçado em cardo e decumano e hierarquização dos espaços e sub-espaços, foi função e desempenho de um profissional que respondeu a uma determinada premissa ou programa.
Ao longo da história, podemos falar de uma evolução de conceitos, ou melhor, de formas de ver e responder a estes programas funcionais com mais “estilo” ou menos “carga decorativa”, aqui sim, entrando uma componente estética, plástica, formal, estilística ou de moda como lhe quisermos chamar.
No entanto, sempre a resposta ao que citei inicialmente:
O contexto, O material, O programa.
O desenho, esse é o resultado dessa panóplia de condicionantes que vão sendo adicionadas como a verdadeira e original receita da sopa de pedra.
Agora o que importa:
Hoje fala-se muito em sustentabilidade, ecologia, bio-climatismo, entre outros temas e títulos usados para vender um produto que afinal… deve ser apenas: Uma boa resposta e cumprimento básico das regras de construção.
Ou estarei certamente desactualizado e mesmo enganado, ou os meus professores traumatizaram-me em falar de assuntos que… ao meu tempo, seriam as regras básicas de construir e fazer a arquitectura e que agora lhe chamam, coisas esquisitas, de características próprias, de especialização dentro do exercício da arquitectura, mestrados e cursos de pos-graduação como se fosse um mero complemento ao exercício profissional.
A quem me conhece, eu repito numa linguagem e discurso académico (a alunos de 2º e 3º ano de um curso de arquitectura)… tudo se resume a:
Agua; Ar e Sol.
A compreensão destes três factores e das implicações e comportamentos dos materiais, dos sistemas, dos processos relativos a estes três factores, é que ditam na realidade o que é ser “boa”, ou “má arquitectura”.
A água entra e sai, cai do céu e volta á terra.
Encontram-se caminhos para a evitar e drenar se não a queremos e aproveita-se quando precisamos dela. Uma telha, um dreno, um caleiro, uma tela asfáltica, ou uma cobertura ajardinada, são sempre materiais, processos e pormenores que dão resposta a esta solução. Se compreendermos o seu percurso, o seu comportamento, facialmente falamos em resolução de problemas em torno da água que chove ou do aqueduto que a traz, de uma forma não teórica e retórica mas de compreensão elementar, empírica, tradicional…
O ar circula, sobe e desce, vem depressa ou vem de vagar. Passa nas esquinas, entra nas janelas, dobra a cumeeira do telhado, trás o frio e na sua ausência, não liberta o calor.
O vento, a brisa fresca, o calor que liberta o teor de humidade, o vácuo ou as diferenças de pressão, os vedantes, ou a compreensão da chaminé como percurso do ar... São raciocínios não importantes mas fundamentais, imprescindíveis para a compreensão, uma vez mais do que é- “fazer a arquitectura” –“Construir bem”, voltando assim ao tema dos materiais, dos processos, dos métodos de construção, do pormenor,
Por fim, o sol!
A temperatura, a passagem térmica pelos materiais, o comportamento destes face ás diferenças, amplitudes, incidências directas ou indirectas, faz com que este último tópico resuma a base do saber construir (bem).
O granito ou o tijolo. A construção em adobe ou uma parede tabicada antiga ou moderna (gesso cartonado), são na realidade e novamente, formas de resolver, executar, construir com materiais diferentes, que se ligam e complementam, que respondem as solicitações várias.
Por fim o sol poente ou a rotação do sol de inverno ou de verão e suas diferenças…
Por fim o comportamento de uma incidência directa num paramento cerâmico ou de granito…
Por fim uma parede molhada ou seca
Por fim uma cobertura em duas ou três águas ou uma cobertura plana, isolada termicamente…
Por fim esta última isolada com poliestireno, ou terra, ou placa de sombreamento

Por fim o cruzamento destas três condições: agua ar e sol, que juntas implicam novamente a compreensão do material, da execução, do processo, do sistema, ou do pormenor e complementaridade de todas as condicionantes citadas…
Isto é de facto fazer arquitectura, bicromática, ecológica, sustentável.
Sem esta compreensão, sem esta básica mas elementar consciência do material e do seu comportamento, sua relação com o meio e com a cultura…
Não adianta falar de especialização ou subcategorias de um exercício profissional que afinal se resume a três classificações:
Boa; má ou o que andam todos a fazer!

Hospital de barcelos

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