25/08/08



Escritos14, 17.09.2005
CASA AO – (Ana Oliveira)
“Acho importante num sentido de dar resposta ao objectivo desta compilação, referir alguns aspectos que para além do conceito e projecto em si, no cumprimento programático que como todas as obras, resultam numa série de impressões iniciais, interpretações do programa e do próprio objecto que aí vamos colocar. No entanto, como sempre insisto, o objecto primeiro de fazer arquitectura num sentido generalizado é a construção, com um programa, uma lógica, mas ao mesmo tempo a resposta clara a uma necessidade de “abrigar”, contando mais ou menos histórias, enfatizando ou tornando o desenho mais elaborado, o entendimento dos processos construtivos, da sua execução, da sua... “materialização”. Um pormenor bem executado porque bonito é apenas o resultado de uma intenção conceptual, mas uma decisão de base, qual a estrutura, qual o pormenor de execução em grosso ou em acabamento é o que na realidade faz uma obra de arquitectura ser diferente de uma construção. Uma soleira bem desenhada, “bonita” mas que resulte numa infiltração é a certeza que o desenho ou a execução estava errada, o que torna o próprio papel do arquitecto na responsabilidade principal, pelo desenho ou pela falta de orientação e cumprimento do mesmo.

Então, para não alongar neste primeiro texto aqui introduzido e especificamente destinado à tal componente pedagógica que pretendemos dar com obras nossas e com a nossa experiência pessoal, dita e escrita na primeira pessoa, a complexidade de infra-estruturas, o aquecimento central, a aspiração central, a domótica, toda uma rede de especialidades que se cruzam e condicionam no desenho, na espessura, na dimensão são temas que levam a um resultado que não é isento de todas estas questões e se torna uma componente do nosso próprio exercício profissional.

Neste caso e nesta obra, aspectos como os muros de suporte, a estrutura do alpendre, uma viga suspensa sobre a porta da garagem disfarçada pelo desenho de alçado, um pórtico que nascera da compreensão e conceito de alpendre, quer ao nível funcional, quer ao nível físico pois a sua orientação solar, exposição aos ventos dominantes, entre outros aspectos levam à tal complexidade de condicionamentos no exercício profissional. A escolha de materiais, a sua execução, a sua cor a sua textura, uma pedra “escacilhada”, ou um soalho de freixo, um painel folheado, suspenso, um painel favelado, folheado, lamelado, que exige uma atenção redobrada na sua execução é cada vez mais, por um lado a razão e preocupação do arquitecto, mas ao mesmo tempo no meu entender a lacuna e isenção mais preocupante na classe dos novos arquitectos.

A relação com a luz, com o espaço exterior e com a paisagem como reflexo, partilha e resposta do e para o cliente… os grandes envidraçados com os estores exteriores laminados, criando um espaço de alpendre frontal, mas ventilado, são alguns dos aspectos a que me refiro e que podem dar discurso a uma aula teórica mas ao mesmo tempo a uma razão lógica explicação clara e objectiva, resposta a questões tão objectivas e prementes como esquecidas muitas vezes no ensino da arquitectura actualmente.”
Escritos 14, 17.09.2005- casa AO

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