25/08/08

“Conceitos de reabilitação e abordagem ao património edificado”


Comunicação

Notas introdutórias

Após um período de maior atenção ao património, por consciência ou mera coincidência de vários concursos e obras executadas, durante a década de 70 e 80, deu-se na década de 90 uma estagnação, ou diria mais, diminuição das encomendas e menor atenção ao património mais notável e mais significativo por parte de um público geral e especifico de arquitectura.

Como venho defendendo ao longo das minhas prelecções e aulas, toda uma panóplia de circunstâncias e condicionantes levam a uma exercício e uma postura distinta e periódica na arquitectura ao longo dos tempos, quer por parte dos profissionais, quer por parte do estado e encomenda pública, quer ainda pelo cidadão comum.

São muitas as condicionantes, desde sociais, politicas, religiosas, entre outras, que levam a que a arquitectura viva períodos de grande valorização e especificamente atenção a alguns aspectos e logo tomada por mercenários da construção sem regras, ou com regras a que chamaria menos nobres porque menos reflectidas e cuidadas no património edificado. A história assim nos ensina, desde as grandes civilizações a pequenos aspectos, muitas vezes pontuais e subtis em que um incêndio, ou uma guerra vem marcar uma posição, uma volta na atenção à arquitectura e à sua importância no panorama urbano, ou um simples acordar e reflectir para algumas questões.

Assim, recordando a história: se um inquérito à arquitectura popular resulta num sentimento colectivo de interesse pelo tipo de arquitectura mais genuína, ou, contrapondo, se os arquitectos sedentos de encomenda e reflexão, usam como pretexto uma vontade meramente politica da descoberta de uma identidade nacional para assim poder falar sobre, descobrir, experimentar e consequentemente desenvolver uma nova forma de ver e fazer arquitectura; se recordarmos e entendermos o aparecimento das ordens mendicantes e o que estas provocaram, quer no espaço urbano fora e dentro das muralhas, e consequentemente no modo de vida e vivência das populações aculturadas por uma nova dimensão religiosa; ou mesmo se remontarmos a uma sociedade pujante, traduzindo-se quase de uma forma subtil quanto inquantificável, num barroco, ou rocócó, ou num gótico com referências às descobertas marítimas, podemos aqui mais uma vez, com a pouca distância que nos separa, constatar que vários factores levam à conclusão que pretendo apresentar aqui e à preocupação que desenho nestas palavras, de desabafo, e mesmo consternação, face à apatia e indiferença pelo tema e problema aqui apresentado.

Referia-me a várias condicionantes que levam a que a atenção ao património sejam periódicas e sempre relacionadas com factores económicos, políticos, sociais entre muitos e que se reflectem no resultado em obra feita e no simples exercício profissional do arquitecto. No momento reduzo a uma intenção muito limiar do nada, apenas abordada ocasionalmente e a medo, por um pequeno reduzido numero de profissionais que resiste a debater, defender e querer manter viva a chama do discurso e reflexão sobre este tema.

Sem referir ou aprofundar muitas condicionantes, falemos em algumas que vem influenciar o panorama actual da intervenção no património, afirmando no entanto que as apresentadas não as entendo ou classifico como principais, mas que pretendo referir com relevantes para o panorama actual.

A encomenda e aspectos económicos
“Realização de grandes obras e concursos”

1. Um dos aspectos que considero ter sido preponderante para a realização de grandes obras e concursos, grandes reflexões de arquitectos de nomeada, e mesmo de uma atitude global perante o património, nos anos 70 e 80, foi sem dúvida o aparecimento de uma perspectiva económica favorável no país e que veio por sua vez favorecer este tema. Refiro-me às grandes encomendas do estado, numa crescente capacidade económica quer deste, quer do privado, e um sentimento colectivo de valorização do património. O mesmo se passou nos últimos anos se pensarmos no espaço urbano relacionando cidades confrontantes com rios e mares, desenvolvendo através do “programa polis” este novo surto de encomendas e por isso novo alento e nova onda de apreciações e experiências profissionais.

Recordo os inúmeros concursos de ideias e associados a estes, a realização de projectos de reabilitação no património mais significativo como Refoios, cadeia da relação, igreja de santa clara, sagres, conventos e mosteiros, exemplos dos quais falarei e exemplificarei na parte prática como justificação e materialização do que aqui refiro e que até ás intervenções em áreas históricas, foram uma constante nesta década citada. Isto só poderia ter acontecido com a vontade e atenção por parte do estado, mas também pelas condições oferecidas e proporcionadas pelo crescimento económico de então.
Passada a euforia, ficou obra feita, reconhecida e por isso referência para as actuações no património nacional edificado. Se agora diminuída a sua atenção, verdade é que essas referências continuam a inspirar pela crítica e observação, algumas intervenções que aqui e além se vão notando, às vezes até em pequenas intervenções particulares e de menor importância patrimonial.

Sendo assim deve-se na minha opinião ao actual estado de estagnação, ou adormecimento deste tema tão querido que é o respeito pelo património edificado. A ausência de grandes encomendas e uma vontade política de activar mecanismos de reabilitar e fazer uso de edifícios que ora se encontram por reabilitar ora se limitaram no passado a serem total ou parcialmente recuperados mas sem grande significado para a actual conjuntura cultural.

Com efeito, o facto de que se esqueceu o tema do património na linguagem corrente, como respeito pela história, pela identidade pelo nosso Património resultou num adormecimento da atenção que duas décadas teriam de diferente na atitude da população.

A influência das referências no meio académico
“A atenção do aluno de arquitectura”

2. Um dos aspectos que, pela positiva, marcou esta atenção pelo tema, foi o facto de que referências no meio académico como Fernando Távora entre outros arquitectos, tiveram nessa altura em mãos a possibilidade de intervir e ver realizadas as suas intenções em planos e projectos.
Logo, a atenção do aluno de arquitectura, e pela orientação do docente, levou a tornar-se num tema corrente, extraordinariamente citado e motivo de reflexão.

Pese ainda que este tema, na minha opinião, requer não só a capacidade do aluno em representar graficamente, ou seja, projectar em desenhos bidimensionais, com maior ou menor conceptualidade e formalismo, mas acresce uma atenção redobrada pelo existente, pelo respeito com algo que já por si tem uma identidade, uma história, um peso, uma condicionante muito forte.

É assim que vejo o património, se me refiro aquele mais significativo porque representativo de uma época, de um lugar, de uma identidade, seja ela urbana ou meramente edificada.
(…)
Claro que, no contexto deste conjunto de reflexões e da publicação prevista, importa referir aquelas condicionantes que de uma forma clara importam e influenciam, o objectivo, sendo apenas algumas das que poderiam ser citadas e nem sempre as mais importantes.

O ensino, sendo eu crítico sobre a forma e as direcções que levamos nesta particular década, perante o papel do arquitecto, mais particularmente na sua valorização ao nível do património, tem descurado esta temática.

Comecemos por um aspecto. Se nos ensinamentos e práticas do ensino da arquitectura, este tema não fizer parte integrante, ou mesmo abordado de uma forma superficial como apenas um campo de acção profissional, o mesmo tema se desvaloriza e é assimilado de uma forma superficial.

Não chega um ano lectivo ou um semestre sobre o tema património sem uma conjunto articulado de matérias, de exercícios projectual, que levem o aluno a desenvolver a sua capacidade crítica sobre a intervenção no património a par com as especificidades de intervir neste campo.

O facto de vivermos numa época de plasticismos e formalismos, meros exercícios de brincadeiras geométricas, repetindo, reproduzindo os modelos que vão aparecendo em capas de revista dos autores da moda, ou numa segunda instância, a tentativa de fazer arquitectura pela espectacularidade e diferença dos alçados e plantas sem recorrer à essência do próprio exercício profissional, acabamos por não só não te r tempo para reflectir sobre o que existe, o que está feito, o património existente, e por outro lado, perder a capacidade de construir um dialogo, um discurso, uma capacidade de entender, de criticar a metodologia de abordagem, os raciocínios inerentes á nossa profissão de arquitecto.

O comportamento e uso dos espaços por parte das populações.
“Os hábitos e costumes, reflectem-se na vivência dos espaços”

3. Outro aspecto que me importa referir, é o comportamento e uso dos espaços de uma forma natural, intuitiva, habitual das populações. Quero dizer, quando construímos um fórum, uma praça como os paços do concelho, uma série de centros comerciais espalhados pelas cidades, estes fenómenos vem sem sombra de dúvida, trazer hábitos, costumes, e reflectir-se na vivência dos espaços e relação dos espaços entre si.
Mais uma vez recorrendo à história, o aparecimento das ordens mendicantes ou uma feira de troca comercial de produtos à porta de uma cidade amuralhada, uma vila de foral que se transforma e faz desenvolver uma pequena urbe ao longo do seu eixo-traçado principal, e resultando mais tarde numa cidade que reflecte o crescimento e dependência deste eixo, na malha urbana actual, são aspectos que subtilmente marcam o uso dos espaços e importância no desenvolvimento das cidades.

Resumindo, um primeiro aspecto a referir é então o facto de que muitas são as condicionantes para que o tema ”património” seja mais visível, mais valorizado e consequentemente mais alvo de atenção e intervenção do arquitecto em projectos de valorização, reabilitação restauro etc.

Edifício Zeferino da Costa - Nuno Oliveira
Recuperação do Chiado- Álvaro Siza

- A questão da abordagem ao programa e conceito de intervenção, formas de interpretar o programa como uso posterior do espaço, a lógica da intervenção.
- Varias formas de interpretara a intervenção no património, uma postura mais intervencionista e provocatória de novas formas de uso dos espaços, reinventar os claustros, a celas os conventos, os quartéis e os mosteiros, transformados em hotéis, hospitais, cadeias, escolas etc.
Ou uma postura mais conservadora e museológica.
Os museus em palácios onde as sala e quartos se ligavam entre si, como uma sequencia espaços museológicos e ou adaptados de uma vivência social e programa habitacional.
- A forma de atacar o património e valorizar, os critérios de intervenção, as definições apriorísticas de classificar o bom e o mau, uma linha polémica ou
Casos práticos abordados
Casos apresentados:
. Plano de intervenção em Vila Nova de Gaia - acções para recuperação e reabilitação do centro histórico
Quando se fala em reabilitar falamos mais uma vez em dar vida nova ou mesmo fazer reviver um espaço que perdera a sua vida intrínseca. Podemos encontrar neste caso particular um exemplo de como o espaço pode ganhar uma vida própria, quiçá diferente da que teria através de novos usos, de criação de pequenos equipamentos ou serviços que por arrasto possam trazer esta animosidade e importância do espaço urbano.
O caso de gaia remonta ao tempo em que se debatia a espectância dos terrenos e grandes áreas de armazéns, que outrora tiveram uma importância urbana quase crucial e centro de sobrevivência de Gaia.
Vemos ainda um aspecto que e o facto de que esta alteração do espaço urbano por si veio valorizar o tema “Vinho do Porto”.
Por duas formas.
Porque sob este tema ou propósito veio qualificar uma área urbana caída à degradação e por isso ganhar uma nova dinâmica.
Mais ainda pelo facto de que criando esta nova dinâmica, valoriza o próprio tema vinho do porto.
O engarrafamento na origem foi uma das razoes porque este plano apesar de lento e diluído no tempo demorou a ser posto em pratica mas ao mesmo tempo o ponto de viragem para a imagem de cidade que hoje encontramos e
Claro que este tipo de actuações não podem ser vistas senão numa acção concertada que vais desde um estudo exaustivo das artérias viárias e infra-estruturas criadas, áreas diversificadas de ocupação tipológica do espaço ou muitas outras condicionantes a contemplar.
No entanto, apesar de continuarem a existir estas áreas de armazém expectantes, vemos aqui a alteração profunda de uma cidade, ou deveríamos dizer de duas áreas de cidade que ladeiam um rio, ganhando agora tamanha importância como centro cívico como á séculos atrás por outros motivos já ocupara este lugar.
Uma praça, um jardim, um, percurso, um estacionamento, um clube fluvial transformado em clube náutico, um tasco virado restaurante típico, ou pequenas outras alterações são sem sombra de duvida uma mais-valia para a reabilitação do espaço urbano.

Por outro lado outro aspecto que importa referir é o facto de que socialmente a recuperação e reabilitação de um simples imóvel pode desencadear uma série de actuações ao novel privado.
Recordo que uma politica de reabilitação apregoada e posta em prática pelo cruarbe entre outros núcleos de intervenção em centros históricos seria a de intervir num caso concreto, um edifício concreto, através de intervenção directa, ou apenas por incentivo até económico.
Este facto socialmente despoleta um sentimento de rivalidade sadia, de inveja positiva pois desencadeia uma vontade do privado em querer alterar e usufruir destas condições valorizando o seu património.

Essa tem sido na minha perspectiva a arma mal usada mas felizmente já comprovada em alguns casos como a melhor forma de que a cidade cresça e acorde para esta importância, pois tudo se passa ao ritmo não de uma intervenção pontual e por vezes até polémica e condicionada pela mudança exagerada e por isso não facilmente aceite ou.. em contraposição se lenta e estratégica, facilmente posto em pratica verdadeira reabilitação do espaço porque subtilmente incitada, incentivada e por arrasto assimilada pela população geral.

Outras pequenas intervenções como ponte de lima e ponte da barca vieram devolver a presença do rio e relação deste com a urbe que o ladeia.
A criação de equipamentos e áreas públicas tratadas, se sustentadas por estes equipamentos vem dignificar por uma lado a cidade mas também ser o garante do investimento da autarquia.
Na Covilhã mais um local de importância do programa polis para a reabilitação desta área ribeirinha.
No centro da cidade e ao longo deste rio, a revitalização e recuperação do património construído das antigas fabricas e casa e que vieram garantir a viabilidade concretização do espaço devolvendo o rio á cidade.

. Plano de salvaguarda para Guimarães o centro, os equipamentos, a consciência colectiva - exaltação do património
Bretanha plano de reabilitação
. Plano de salvaguarda de V. N. de Famalicão - Casos particulares.
. Londres. Regulamentação e controle de materiais e sistemas de construção.
.Casa D Laura
.Castelo de Barbacena - Alentejo, proposta de recuperação.
. Equipamento em Coimbra - Reabilitação e transição com centro histórico.
. Recuperação do Chiado, - regulamento específico.
Edifício PSD
. Outros casos abordados

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Hospital de barcelos

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